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O mês de Maria começa com São José

Para que o mês de maio fosse especial, Deus quis que ele começasse com o maior devoto da Virgem Maria, o Castíssimo São José.

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O mês de Maio é dedicado na Igreja como o mês de Maria, um tempo especial para a veneração da Santíssima Mãe de Deus. No entanto, a liturgia do primeiro dia deste mês especial é dedicada à celebração de outra figura: São José Operário, comemorado no dia 1º de maio. Este enlace no calendário não é uma simples coincidência, mas um convite profundo para explorar a conexão significativa entre José e Maria, que juntos formam o núcleo da Sagrada Família.

Vamos refletir na relação entre São José e a Virgem Maria, começando com um olhar sobre as práticas e significados do casamento judaico na época em que viviam. Avançaremos para discutir as dúvidas e a justiça de São José, e como sua conduta exemplar nos oferece uma lição de fé, compaixão e amor divino. Exploraremos também o papel fundamental de São José na criação e na educação de Jesus, não apenas como provedor material, mas também como uma figura paterna que nutriu a identidade religiosa e cultural de Jesus dentro da promessa messiânica da descendência de Davi.

Por fim, refletiremos sobre como São José nos ensina sobre a devoção mariana e o amor a Cristo, destacando a importância de São José não apenas como protetor da Virgem, mas como modelo de virtude e santidade na vida cristã.

Contexto Histórico e Cultural do Casamento Judaico

O casamento judaico nos tempos de José e Maria era composto por duas fases principais: o desposório (erusin) e o casamento pleno (nisu'in). O desposório era uma formalização da promessa de casamento, durante a qual os noivos eram considerados legalmente casados, embora ainda não vivessem juntos nem consumassem a união. Este período poderia durar até um ano, um tempo dedicado ao preparo emocional e espiritual para a vida conjugal completa que se seguiria.

Durante o desposório, a mulher permanecia na casa de seus pais, enquanto o homem preparava uma morada para o casal. Era uma época de expectativa e preparação, em que a confiança mútua e a fidelidade eram postas à prova, antecipando a vida compartilhada que estava por vir.

No caso de São José e da Virgem Maria, foi durante o desposório que Maria recebeu o anúncio do Anjo Gabriel de que ela conceberia um filho pelo poder do Espírito Santo. São José, ao descobrir a gravidez de sua esposa, enfrentou um dilema profundamente espiritual e humano. O desafio de São José não era apenas pessoal, mas estava carregado de significado espiritual, pois ele tinha que navegar pelas normas culturais e religiosas da época, mantendo a integridade e a fé.

As Dúvidas de São José e Sua Resposta Justa

Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo, e não querendo difamá-la, resolveu repudiá-la secretamente. Andando ele com isso em pensamento, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber em tua casa Maria, tua esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo”. (Mt 1,18-20)

O primeiro capítulo do Evangelho de São Mateus revela as profundas dúvidas e o conflito interno enfrentado por José. Ele se encontrava diante de uma situação que desafiava tanto sua compreensão pessoal quanto as normas sociais e religiosas de sua época.

Mas porque Deus quis que assim fosse? Porque não fez seu Filho nascer de uma virgem não desposada? São Jerônimo responde: “Por três razões: a primeira, para que pela genealogia de José, se soubesse a origem de Maria; a segunda, para que os judeus não a apedrejassem como adúltera; a terceira, para que, ao fugir para o Egito, tivesse a consolação de um marido”. [1]

José, descrito como um homem "justo" pelo evangelista, optou por uma abordagem cheia de compaixão. Ao invés de expor Maria ao possível escárnio ou até mesmo a punições severas previstas pela lei, ele planejou desfazer o compromisso em segredo. Esta decisão de São José reflete sua justiça e misericórdia. Santo Tomás de Aquino fala sobre o assunto:

“Ou, não querendo transferi-la à sua casa para viver com ela em coabitação permanente, quis deixá-la ocultamente, isto é , mudar o tempo do casamento. Porque é verdadeira virtude exercer a piedade juntamente com a justiça e esta juntamente com a piedade; virtudes que, operando separadas anulam-se mutuamente. Ou também pode-se dizer que era justo pela fé com que cria que Cristo haveria de nascer de uma Virgem, querendo, portanto, humilhar-se diante de uma tão grande graça.”. [2]

A resposta de São José ao seu dilema nos ensina uma lição valiosa sobre a justiça que se baseia na fé. Ele não só acolheu a Virgem Maria, mas também aceitou com coragem a responsabilidade de criar e proteger Jesus, o Messias prometido. Este ato de fé e justiça de São José mostra que a verdadeira justiça vem de entender e alinhar nossas ações com a vontade de Deus, mesmo quando confrontados com situações que parecem desafiar nosso entendimento e nossas expectativas.

São José, o Maior Devoto da Virgem Santíssima

São José e Nossa Senhora desempenharam papéis complementares na vida e na missão de Jesus. Enquanto Maria foi escolhida para ser a mãe de Jesus, José foi escolhido para ser o guardião do Redentor. Esta divisão de responsabilidades revela um equilíbrio divinamente ordenado entre o masculino e o feminino na família sagrada, onde ambos os papéis foram essenciais para o desenvolvimento de Jesus como humano e para a realização de sua missão redentora. Juntos, eles proporcionaram um ambiente estável e amoroso que permitiu a Jesus crescer “em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).

A vida de São José e Maria foi marcada por desafios que testaram sua fé e confiança em Deus. Desde o início, quando José decidiu não abandonar Maria após descobrir sua gravidez divinamente ordenada, até a fuga para o Egito para proteger Jesus de Herodes, a vida dos dois foi um testemunho de fé ativa e confiança inabalável no plano de Deus. Em cada passo, José e Maria se apoiaram um ao outro, compartilhando as alegrias e os desafios de criar o Filho de Deus. Esse suporte mútuo é um testemunho poderoso do papel do matrimônio e da família como fundação para a fé e o serviço cristãos.

Ao refletir sobre a relação entre São José e Maria, é evidente que José era um devoto excepcional de Maria. Reconhecendo a importância singular de Maria como Mãe de Deus, José dedicou sua vida a protegê-la e honrá-la, um ato de devoção que transcende o entendimento comum do amor conjugal. Sua devoção foi marcada por respeito, sacrifício e um profundo amor que serviu para fortalecer sua própria espiritualidade e missão. Ao venerar Maria, José também nos ensinou como a devoção mariana deve ser entendida: como um caminho para Cristo, que reflete o amor, o respeito e a santidade que todos os cristãos são chamados a aspirar em suas próprias vidas.

A vida de São José oferece ensinamentos valiosos sobre a devoção mariana e o amor a Cristo. Ao amar Maria, José demonstrou como amar Jesus de maneira mais plena, pois através de Maria, ele encontrou uma nova profundidade em seu relacionamento com Jesus.

Lições de São José para a Devoção Mariana e o Amor a Cristo

São José, através de sua vida e ações, oferece exemplos concretos de virtudes a serem imitadas na devoção a Maria e no amor a Cristo. Veja algumas lições práticas extraídas de sua vida:

  1. Obediência a Deus: José demonstrou uma obediência inabalável às instruções divinas, mesmo quando desafiavam a lógica humana. Sua aceitação imediata das mensagens angélicas para proteger Maria e Jesus é um modelo de fé e confiança em Deus. Essa obediência pode ser cultivada em nossa própria vida através da oração atenta e da disposição para seguir a vontade de Deus, mesmo em circunstâncias incertas.
  2. Proteção e respeito por Maria: José protegeu Maria e tratou-a com profundo respeito, reconhecendo sua singularidade como Mãe de Deus. Imitar José nesse aspecto significa tratar Maria com honra em nossas orações e ações, reconhecendo seu papel especial na salvação e pedindo sua intercessão com reverência.
  3. Modelo de virtudes: A vida de José foi marcada pela justiça, paciência e integridade. Ele não fez julgamentos precipitados sobre Maria e escolheu acreditar e apoiar em vez de condenar. Podemos praticar essas virtudes em nossa vida diária, sendo justos e íntegros em nossas relações com os outros, especialmente em situações de mal-entendido ou conflito.
  4. Humildade: A humildade de José é evidente em sua aceitação silenciosa de seu papel no plano divino, sem buscar reconhecimento ou recompensa. Cultivar a humildade nos permite reconhecer que nosso papel no plano de Deus pode ser discreto, mas ainda assim significativo.
  5. Devoção e serviço: José serviu a Maria e Jesus com devoção inquestionável, fornecendo todo o necessário para suas necessidades materiais e espirituais. Imitar essa devoção significa servir aos outros em nossas famílias e comunidades, oferecendo apoio material e espiritual e fazendo-o como um ato de amor a Deus.
  6. Exemplo silencioso: José ensinou Jesus não apenas através de palavras, mas principalmente através do exemplo. Ele nos mostra o valor do trabalho, da fé e da responsabilidade. Tantas vezes empregamos muitas palavras para convencer a outros, mas falta em nós a verdadeira vida de fé, que fala mais alto.
Amar Maria com o coração de José

Ao começar o mês de Maria com a celebração de São José Operário, somos convidados a refletir sobre a relação profunda entre estas duas figuras centrais na vida de Jesus. São José, em sua vida de serviço silencioso e amor devotado, não apenas protegeu e providenciou para a Sagrada Família, mas também nos ofereceu um exemplo supremo de como viver a devoção mariana e o amor a Cristo.

O exemplo de São José é um lembrete de que nosso amor pela Santíssima Virgem deve sempre reforçar nosso amor por Cristo, e que nossa fé é mais plenamente realizada quando vivida em serviço aos outros. Este mês de maio, enquanto celebramos Nossa Senhora, que a figura de São José nos inspire a cultivar uma fé que é ao mesmo tempo profundamente contemplativa e ativamente engajada no mundo, emulando as virtudes de justiça, obediência e caridade que José tão exemplarmente demonstrou.

Portanto, ao honrarmos São José e Nossa Senhora, renovemos nosso compromisso de seguir seus exemplos, permitindo que suas vidas iluminem nosso caminho para um amor mais profundo e genuíno por Jesus Cristo. Que São José, o maior devoto da Santíssima Virgem Maria, continue a guiar todos nós em nossa jornada de fé, amor e devoção.

Referências

[1] São Jerônimo. apud. Santo Tomás de Aquino. Catena Aurea vol 1. Evangelho de São Mateus. Lectio IX.

[2] Santo Tomás de Aquino. Catena Aurea vol 1. Evangelho de São Mateus. Lectio X