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8 Conselhos práticos para evitar a distração no Terço

É preciso rezar e rezar bem. Para isso é necessário combater as distrações durante a oração, principalmente nas orações cotidianas, como o santo terço.

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Você pega seu terço, faz o sinal da cruz com devoção e começa a oração à Santa Mãe de Deus, mas quando se dá conta, já está terminando o terceiro mistério e nem percebeu, nem meditou até ali. Todos já passamos por essa situação, vencidos pelo cansaço físico, pensando no jantar a ser feito, no boleto que precisa ser pago, naquele problema no trabalho, e a oração passa por nós, sem que tenhamos percebido ou aproveitado esse tempo de intimidade com Deus e Nossa Senhora.

O problema da distração

Se você se encontra frequentemente numa situação semelhante, não se desespere, também Santa Teresa d’Ávila, grande mística e doutora da Igreja, teve dificuldades de se  concentrar: “Eu via - segundo o meu parecer - as faculdades da alma fixadas em Deus e recolhidas n’Ele, e, por outro lado, a imaginação alvoroçada. Isso me deixava zonza” [1]. Ela descreve justamente aquele esforço da vontade de permanecer ali na oração, mas que nossos pensamentos, nossa imaginação correm soltos e não parecemos estar inteiramente ali no que estamos fazendo, ficamos distraídos.

Para nos ajudar a vencer as distrações na oração, recorremos inicialmente ao brilhante autor espiritual pe. Antonio Royo Marín, que distingue duas causas para essas distrações: As que independem da vontade e as que dependem da vontade, ou seja, as que não estão no nosso controle direto e as que estão sob nosso controle direto [2].  Para melhor entender essas causas, vamos imaginar alguns exemplos:

As causas da distração

Imaginemos o caso de uma dona de casa que durante o dia cuidou da casa, dos filhos, saiu para pagar suas contas, teve desavenças com o marido, buscou os filhos na escola para ouvir da professora sobre seu mau comportamento, chega em casa e em meio a esse caos, deita em sua cama e puxa seu terço para rezar. Não é difícil de imaginar que essa senhora vai dormir ou se distrair na sua oração, porque estava cansada (não depende da vontade) e foi rezar deitada logo em seguida de um dia corrido (depende da vontade).

Imaginemos um outro caso de um jovem de temperamento enérgico e avoado, tem o costume de conversar em todo o lugar que está, quando está quieto, escuta música nos fones de ouvido, ou fica mexendo no celular, vendo centenas de pequenos vídeos todos os dias. Um dia, por influência de um amigo, vai para uma capela quieta e propensa à oração, ele ajoelha e pega seu terço para rezar com o companheiro. Novamente é fácil perceber que esse rapaz provavelmente vai continuar com a cabeça nos seus vídeos, músicas e conversas, porque seu temperamento é naturalmente avoado (não depende da vontade) mas ele também vive uma vida dispersa, sem recolhimento e sem o hábito da oração (depende da vontade).

Vemos com esses dois exemplos que existem coisas que nos dispersam e não dependem de nós, como o temperamento, a saúde física, o cansaço mental e até a ação direta ou indireta do demônio, que instiga a imaginação; mas também existem coisas que nos dispersam por nossa própria ação, como viver uma vida de dispersão e acelerada, ou não se preparar devidamente para o momento de oração, como diz as escrituras: “Antes da oração, prepara a tua alma, e não sejas como um homem que tenta a Deus” (Eclo 18,23). A partir disso, podemos traçar estratégias para combater essa dispersão:

  1. Prepare a sua vida. A nossa vida cotidiana é corrida. Vemos muitas coisas, fazemos muitas coisas, então procure parar alguns momentos no dia, no seu caminho para o trabalho, no seu horário de almoço, fique uns momentos em silêncio, sem música ou celular.
  2. Prepare o seu ambiente. Quando vamos receber uma visita querida, limpamos a casa e preparamos um cafézinho ou um agrado para a pessoa, da mesma forma precisamos preparar o nosso ambiente de oração. Se coloque diante de uma bela imagem religiosa, acenda uma vela, busque um lugar tranquilo, etc.
  3. Prepare o seu coração. Antes de começar o terço, faça alguns instantes de silêncio, para que as preocupações do seu dia não inundem a sua mente durante a oração.
  4. Converse com a visita. Antes de começar o terço, fale um pouquinho com Jesus e Nossa Senhora, com as suas palavras mesmo, fale sobre o que te preocupa, agradeça por algo que te alegra, peça por algo que você precisa, mas fale de forma amorosa e sincera.
  5. Peça ajuda. Deus quer que você reze bem, peça o auxílio divino para que você possa se concentrar e fazer sua oração com amor e devoção, peça para que afaste a ação do demônio, pode até usar um pouco de água benta para fazer o sinal da cruz, gesto muito querido pelos santos e padres exorcistas.
  6. Volte com paciência. Mesmo se preparando bem, às vezes, nossa imaginação realmente começa a divagar, então não se desespere, percebeu que estava distraído, volte sua atenção novamente para Deus, mil vezes se for necessário, tenha paciência consigo mesmo assim como Deus tem.
  7. Faça um exame de oração. Depois, e só depois de terminar seu terço, avalie quais foram suas principais distrações e anote num caderno, pensando também no que fazer para evitá-las da próxima vez.
  8. Quebre a rotina. Se você reza sempre seu terço andando, procure um lugar bonito na natureza para parar e rezar, ou vá a uma bela Igreja, cante ou escute um hino mariano antes da oração, enfim, seja “romântico” na sua relação com Deus, crie coisas novas, mas o “diferente” não deve se tornar cotidiano, e sim a exceção.  

Se mesmo seguindo esses conselhos práticos ainda sentir-se distraído na oração, saiba que acima de tudo, Deus te quer santo, e se você hoje enfrenta essas dificuldades, lutar contra elas te fará mais santo do que se não tivesse distração alguma. Persista em lutar contra as distrações na oração, sem desistir, caso elas não te abandonem, e encontrará nisso grande valor e graça, pois como ensina São Josemaria Escrivá “Começar é de todos; perseverar é dos santos” [3].

[1] S. Teresa de Jesus. Obras Completas. Ed. Loyola 7ª ed. 2016. p.474.

[2] Cf. Pe. Antonio RoyoMarín. Teologia da Perfeição Cristã. Ed. Magnificat 4ª ed., 2021. n. 482-483.

[3] São Josemaria Escrivá. Caminho. n. 983